26.12.05

Dói"s"-me


Dói-me. Dói-me muito. E não sei onde.
Dói-me quando olho para ti, quando te vejo já ao longe,
de cigarro encarcerado entre os teus dedos tão monstruosamente pequeninos.
Dói-me saber que só te volto a ver quando já for tarde, e quando a dor se cansar de tanto me cansar.
Tenho as mãos suadas e o coração a transpirar de tanto dar voltas e revira-voltas.
Dava tudo para saber estancar o palmo e meio de rasgo que me fazes na carne, não para o fazer, mas só para saber como actuar em caso de extrema urgência, que de urgência já eu vivo.Dói-me muito, mas não sei onde.
Se agora mesmo entrasse nas portas cansadas de um qualquer hospital, ficaria dia e meio para explicar onde e o que me dói. E ainda assim, dia e meio depois, estaria exactamente no mesmo ponto da conversa.
Estaria de frente para uma bata branca, curvado de dores, de soro a violar-me o braço e o sangue, e de coração semi-risonho, como uma criança que faz das suas e olha para o lado para que ninguém a veja. "Juro que me dói senhor doutor, juro-lhe." De que vale explicar uma dor a quem nunca a sentiu?A
dor que me causas passa os limites de cinco países juntos.Apetece-me beber-te a conta-gotas.
Dói-me. Dói-me muito.
E quando me disseres onde, vai doer-me muito mais.



autoria de: Bruno Nogueira

1 comentário:

Anónimo disse...

Sr. Bruno Nogueira

Tenha cuidado pq isto costuma dar dois dias antes de morrer!!!

Claudia qd puderes transmite esta msg ao Sr. SFF. Obg.